Seja um espaço topológico e um subconjunto qualquer de . Definimos o fecho de , e denotamos por o conjunto
Também escrevemos ; ou quando queremos enfatizar a topologia , escrevemos .
Seja um espaço topológico. E para cada , seja uma base de vizinhanças de . Então,
Em particular, está no fecho de se, e somente se, para todo vizinhança aberta de , .
Vamos então verificar algumas propriedades do operador .
A operação de fecho no espaço topológico satisfaz:
Demonstração. _ Itens (1), (2) e (3).
Consequências imediatas da definição de fecho.
_ Item (4).
Por (2), . Seja então , e seja uma vizinhança aberta de . Então existe , tal que . Ou seja, é vizinhança de . E portanto, como está no fecho de , existe tal que . Provamos que toda vizinhança aberta de intercepta . Pelo lema 6.3, .
_ Item (5).
O item (5) é imediato da definição de fecho. No entanto, também pode ser demonstrado através do item (3), pois para todo ,
Basta então fazer a união para todo .
_ Item (6).
Por (5), basta mostrar que
Suponha que , mas . Vamos mostrar que . Existe uma vizinhança de tal que . Toda vizinhança de intercepta . Então, toda vizinhança de contida em , já que não intercepta , tem que interceptar . Observando que a família de todas as vizinhanças de contidas em forma uma base de vizinhanças de (por quê?), concluímos pelo lema 6.3 que . □
Observação 6.5. A demonstração do item (4) da Proposição 6.4 (de fato, o lema 6.3 utilizou, de maneira essencial, o fato de a família das vizinhanças abertas de um ponto formar uma base de vizinhanças. Veja a Observação 3.5, o texto introdutório da seção 3.5 e a Figura 4.2.
Pela definição de fechado, os conjuntos fechados são os pontos fixos da aplicação . Por outro lado, o item (4) da Proposição (6.4) mostra que todo conjunto da forma é fechado. Ou seja, a família dos conjuntos fechados é exatamente a imagem de . Se o “fecho” de um conjunto não fosse “fechado”, precisaríamos dar outro nome para ao menos um dos dois conceitos. :-)
Demonstração. Tome . Então existe tal que . Ou seja, . Portanto, é aberto, já que é vizinhança de todos os seus pontos.
Por outro lado, suponha que . Então, nenhum ponto de pertence a (por quê?). Ou seja,
Portanto, (por quê?). □
Observação 6.8. A Proposição 6.7 mostra que a topologia de pode ser determinada pela família
dos subconjuntos fechados de . Quando é então que uma família define os conjuntos fechados de uma topologia ? Ou seja, quando é que a família
é uma topologia de ? A resposta é simples: a família terá que satisfazer as condições listadas na Proposição 6.9.
Indo um pouco além, se conhecermos , também sabemos quem são os fechados de , e por consequência, sabemos quem é a topologia . Desta forma, quando é então que uma aplicação
é igual à operação de fecho de uma topologia ? A resposta a esta pergunta está contida na Proposição 6.4. Veja o Exercício ??.
Dado um espaço topológico , a família formada pelos subconjuntos fechados de satisfaz:
Demonstração. Basta utilizar as leis de De Morgan
para verificar a equivalência entre os itens da proposição e os itens da definição de topologia 4.1. □
O fecho de um conjunto pode ser facilmente determinado se utilizarmos a família dos fechados.
Seja um espaço topológico e a família formada pelos subconjuntos fechados de . Então, para um subconjunto qualquer ,
Em outras palavras, é o menor conjunto fechado que contém .
Demonstração. Como é fechado e , temos que
Afirmação. Se é fechado, então
_______________________________________________________________________________
De fato,
_______________________________________________________________________________
Pela afirmação anterior, é evidente que
Assim como para o fecho, dado um espaço topológico , podemos associar a cada o subconjunto de formado por todos os pontos dos quais é vizinhança. Do mesmo modo que o fecho de um conjunto é fechado, o interior será aberto. E assim como o fecho de é o menor fechado que contém , seu interior é o menor aberto contido em .
Proposição 6.11. Seja um espaço topológico e um subconjunto qualquer de . Então existe um conjunto que é o maior subconjunto de que é aberto. O conjunto também pode ser escrito
Demonstração. Como a união arbitrária de abertos é um aberto, então
é evidentemente o maior aberto contido em . Vamos mostrar que .
O conjunto é tal que se , então . Como , então para todo ponto de , temos que é uma vizinhança de . Ou seja,
Falta então mostrar que o conjunto é aberto e que portanto,
Seja . Como é vizinhança de , então existe uma vizinhança aberta de , , tal que . O conjunto é vizinhança de todos os seus pontos. Em particular, é vizinhança de todos os pontos de . Ou seja,
E portanto,
é aberto. □
É importante notar quando se afirma a “existência” de um elemento “máximo”. Ao contrário do que nossa intuição possa acreditar, nem sempre existe um elemento “máximo” ou “maximal” que satisfaça determinada condição. Por exemplo, não existe o “maior número real que é menor que .” Talvez o leitor não tenha percebido, mas se o conjunto não fosse aberto, a demonstração anterior não estaria correta. Em que momento utilizamos que é um conjunto aberto?
Seja um espaço topológico e um subconjunto qualquer de . O interior de é maior conjunto aberto contido em . Denotamos o interior de por , , ou ainda quando queremos enfatizar que é o interior de com respeito à topologia .
Seja um espaço topológico. Valem as seguintes relações entre o fecho e o interior de um conjunto :
Demonstração. Exercício. :-) □
Os conjuntos fechados são simplesmente complementos de conjuntos abertos. Dada uma aplicação , a inversa preserva a operação de complemento. Assim, será contínua quando a imagem inversa de cada fechado for um conjunto fechado.
Sejam e espaços topológicos e uma aplicação qualquer. As seguintes afirmações são equivalentes:
Basta notar que preserva a operação de complemento. Isto é,
Por hipótese, o conjunto é fechado e contém . Portanto, como o fecho de é o menor fechado que o contém, segue que
Basta agora aplicar a ambos os lados para obter
Segue da relação entre o fecho e o interior descrito na Proposição 6.13.
Seja um conjunto fechado. Faça
Vamos mostrar que é fechado. Pela hipótese do item (3), vale que
Aplicando de ambos os lados,
Portanto, . □
Assim como fizemos quando definimos o que vem a ser uma aplicação aberta (Definição 4.19), vamos definir o que é uma aplicação fechada.
Uma aplicação entre dois espaços topológicos é fechada, quando para todo fechado , sua imagem também for fechada.
Note que enquanto é verdade que se leva abertos em abertos (ou seja, é contínua), então leva fechados em fechados; não é verdade que se é uma aplicação aberta, também será uma aplicação fechada. Por exemplo,
é uma aplicação fechada, mas não é aberta.
Em um espaço topológico , se é fechado, e , então nenhuma sequência pode convergir para . De fato, é uma vizinhança de que não contém nenhum ponto da sequência . Portanto, se uma sequência converge para , teremos que . Em particular, esquecendo um pouco o conjunto , se , então,
Indo um pouco além,
Pois a sequência também converge para .
Por outro lado, dada a sequência , suponha que
Podemos concluir que ? A resposta é não! Mas por que não? Por exemplo, por que não converge? E se
então vale que ? Considere
para verificar que não vale. Mas é verdade que se , então
Para ver que não, basta considerar a topologia , onde é um conjunto qualquer com mais de um elemento. Neste caso,
pois o fecho de qualquer conjunto não vazio é igual a .
Vamos supor, então, que
Neste caso, quando é que ? Se
então existe uma vizinhança de , , tal que infinitos não pertencem a . Ou seja,
É como dizer que quando para toda “subsequência” tivermos que .
Dado um conjunto e uma sequência . Uma sub-sequência de é simplesmente uma sequência , onde .
Dada uma sequência , o que determina as subsequências de , são as aplicações
que preservam a ordem de . Ou seja,
Poderíamos ter definido subsequência como uma aplicação que satisfaz
Dado um espaço topológico , uma sequência converge para se, e somente se, para toda subsequência ,
Demonstração. Se , então toda subsequência converge para (por quê?). Portanto,
Pois se , então é uma vizinhança de que não contém nenhum .
Por outro lado, se , então existe uma vizinhança de , tal que para infinitos índices , . Portanto, para esses índices,
Uma das implicações da Proposição 6.18, é que basta conhecer o fecho dos conjuntos enumeráveis para sabermos quais são e quais não são as sequências convergentes. Em espaços métricos, por exemplo, os conjuntos fechados , são exatamente aqueles que
Em espaços topológicos em geral, isso não é necessariamente válido. Mais adiante, veremos como o conceito de redes pode remediar esta deficiência das sequências. Por exemplo, considere a topologia em do exercício ??, onde os fechados são, além do próprio , os conjuntos enumeráveis (com cardinalidade menor ou igual à de ). Neste caso, as sequências convergentes são constantes a menos de um número finito de índices:
(6.1) |
De fato, se houvessem infinitos índices tais que , então, seria um fechado que não contém , contradizendo a Proposição 6.18. Por outro lado, as sequências de (6.1), são exatamente as sequências convergentes na topologia discreta.
Essa mesma construção poderia ser feita com qualquer conjunto no lugar de , para se ter uma topologia em onde as sequências convergentes são as mesmas da topologia discreta. Precisamos que seja não enumerável para que a topologia construída seja diferente de topologia discreta .
Em espaços métricos, uma aplicação era contínua quando
(6.2) |
Para o caso de espaços topológicos, a continuidade de implica na condição da equação (6.2). No entanto, a volta nem sempre vale.
Demonstração. Se , então existe uma vizinhança aberta de , tal que para um número infinito de índices, a sequência não pertence a . Portanto, para um número infinito de índices, a sequência não pertence a , que é, pela continuidade de em , uma vizinhança de . O que mostra que . □