Os conhecimentos adquiridos neste capítulo serão importantes para que o leitor possa ter exemplos concretos e também motivação suficiente para reconhecer a utilidade e aceitar com naturalidade os conceitos que serão apresentados nos capítulos seguintes.
Um espaço métrico é um conjunto , munido de uma métrica . A métrica faz com que esteja definida uma noção de distância entre os pontos de .
Seja um conjunto qualquer. Uma métrica definida sobre é uma função
que, para todo , satisfaz
Dizemos que é um espaço métrico. Em geral, por um abuso de linguagem, quando a métrica está subentendida, dizemos que é um espaço métrico.
Em , a métrica usualmente adotada é a métrica euclidiana, dada por
(1.1) |
Onde e .
Em várias situações, o item (1) da definição de métrica nos permitirá concluir que dois pontos são de fato o mesmo ponto. Basta mostrar que . O item (3) é o mais importante da definição. É este item que abstrai a idéia de que a distância entre dois pontos está intimamente relacionada com o “menor caminho” entre dois pontos:
Se existe um caminho , partindo de e indo para , e um caminho , partindo de e indo para , então, a menor distância (ou o ínfimo dos comprimentos dos caminhos partindo de e indo para ) não é maior do que a soma dos comprimentos de e . (Figura 1.1)
Seja um espaço métrico, e . A bola de centro e raio é o conjunto de todos os pontos que distam de menos que :
1.1.8. Leia a página da Wikipedia em inglês sobre espaços métricos. Depois, vá até a Wikipedia em português e melhore a página sobre espaços métricos que tem lá. :-)
Nesta seção, é um espaço métrico. As propriedades mais interessantes dos espaços métricos são conseqüência da desigualdade triangular. Muitas vezes, essas propriedades são mais fáceis de serem visualizadas quando temos em mente a distância euclidiana em . Ou seja, quando fazemos um desenho em uma folha de papel. É importante enfatizar no entanto, que os resultados dependem apenas das propriedades das métricas (Definição 1.1). O desenho melhora a intuição, mas não é uma demonstração.
Todas as proposições deste capítulo são muito simples. O leitor deve ser capaz de completar as demonstrações que afirmam, por exemplo, que basta tomar um certo para concluir a demonstração.
Demonstração. Basta tomar grande o suficiente para que . □
A seguinte Proposição, apesar de muito simples, é fundamental para o desenvolvimento de toda a teoria que se seguirá, e é conseqüência direta da desigualdade triangular.
Demonstração. Basta tomar . Neste caso,
Demonstração. Pela Proposição 1.4, existem tais que
Basta portanto tomar qualquer . □
Repare que a proposição “vale” para qualquer número finito de bolas . Mas não “vale” para um número infinito de bolas.
Demonstração. Como , temos que . Basta tomar
Demonstração. Basta mostrar que dado com , existe tal que
Basta tomar . Ou então notar que isso segue como um caso particular da Proposição 1.6. □
1.2.4. Por que a demonstração do exercício 1.2.3 não vale se o número de bolas não for finito?
1.2.5. Na demonstração da Proposição 1.7, exatamente quais propriedades da métrica foram utilizadas?
1.2.6. Na demonstração da Proposição 1.6, onde foram utilizadas as seguintes propriedades da métrica?
Exemplo 1.8 (Métrica Usual dos Reais (métrica euclidiana)).
Considere o conjunto dos números reais . A seguinte métrica é a métrica usual dos números reais:
O espaço é um espaço métrico.
Exemplo 1.9 (Métrica Discreta).
Seja um conjunto qualquer. Então, definimos a métrica discreta em por
Exemplo 1.10 (Métrica Euclidiana de ).
Considere o espaço vetorial . Agora, defina
onde é a norma euclidiana de . O espaço é um espaço métrico. Além do mais, possui as seguintes propriedades:
Poderíamos ter feito o mesmo para dois (ou mais) espaços métricos quaisquer, e , e definido a seguinte métrica em :
Exemplo 1.11 (Métrica do Máximo em ).
Novamente, considere o espaço vetorial . Sejam e elementos de . Então, defina
O espaço é um espaço métrico. Nesta métrica, as bolas são na verdade “quadrados”. :-)
Poderíamos ter feito o mesmo para dois (ou mais) espaços métricos quaisquer, e , e definido a seguinte métrica em :
Exemplo 1.12 (Métrica da Soma em ).
Novamente, considere o espaço vetorial . Sejam e elementos de . Então, defina
O espaço é um espaço métrico.
Novamente, poderíamos ter feito o mesmo para dois (ou mais) espaços métricos, e , e definido a seguinte métrica em :
Exemplo 1.13 (Os Complexos e o ).
Podemos identificar um número complexo com o elemento . Assim, usando a métrica euclidiana de , obtemos a métrica
Exemplo 1.14 (Identificando Dois Conjuntos).
O que fizemos no Exemplo 1.13, poderia ter sido feito para qualquer aplicação injetiva. Se é um espaço métrico, e é uma injeção partindo de um conjunto qualquer , então podemos definir a seguinte métrica no conjunto :
Exemplo 1.15 (Restrição a um Subconjunto).
Seja um espaço métrico e . Então, é também um espaço métrico. De fato, esta construção é exatamente o que foi feito no Exemplo 1.14 onde a identificação entre e é a identidade:
Exemplo 1.16. Seja um conjunto qualquer. Denote por o conjunto de todas as funções . A seguinte função NÃO é uma métrica em :
Isso porque é possível que . No entanto, se considerarmos o conjunto , onde representa a função constante de valor , então é um espaço métrico. Note que poderíamos ter usado qualquer outra função no lugar de .
Sempre podemos fazer isso quando uma função satisfaz, com exceção da possibilidade de assumir o valor , as condições para ser uma métrica listadas na Definição 1.1. Esse artifício é utilizado por exemplo, em análise funcional, quando se estudam os chamados espaços . É importante notar que a função está bem definida. Apenas não é uma métrica se assumir o valor .
Seja () uma família de espaços métricos tais que a imagem de esteja condida em . Seja . Mostre que
é uma métrica.
Seja () uma família de espaços métricos. Faça , e defina
Fixando , e definindo
mostre que, é um espaço métrico.
Seja () uma família de espaços métricos. Faça , e defina
Fixando , e definindo
mostre que, é um espaço métrico.
1.3.5. Sejam , espaços métricos onde a imagem de esteja condida em . Seja . Mostre que
é uma métrica.
1.3.6. De um exemplo de uma aplicação
que satisfaz , e que também satisfaz os itens (2) e (3) da Definição 1.1, mas que não é uma métrica.
Considere a aplicação
Mostre que satisfaz os itens (1) e (3) da Definição 1.1, mas não é uma métrica.